Enquanto o tempo passa e a paciência da população se desgasta, a Prefeitura de Patos segue em sua tradição quase faraônica de tocar obras públicas envoltas em tapumes e orçamentos mistérios. A transparência, palavra tão bonita em campanha eleitoral, desapareceu sob o entulho das construções inacabadas — e, ao que tudo indica, foi soterrada junto com o respeito ao contribuinte.

O exemplo mais atual — e irritante — é a obra do canteiro central na Avenida Solon de Lucena, iniciada em julho. Uma intervenção que não é emergencial, não é clara, não é rápida e tampouco é honesta com os cidadãos que a enfrentam diariamente, já que, como tantas outras, não traz placa exibindo informações básicas e de direito do cidadão.

A população ainda não sabe o motivo exato da obra, nem seu custo, nem sua duração. Em troca do silêncio oficial, ganha um presente de grego: engarrafamentos diários, proibição de estacionamento, tapumes sufocando a via e o sumiço iminente dos bancos de mármore e inox, que, quando foram instalados, custaram uma fortuna e agora, mesmo em ótimo estado, estão sendo descartados sem qualquer explicação.

É irônico — ou revoltante — que uma cidade como Patos, que se prepara para receber a tradicional Festa da Padroeira Nossa Senhora da Guia, tenha como cenário um calçadão quebrado, interditado, feio. Irão se instalar as barracas entre entulhos? Vai ter brinquedo infantil ao lado de brita solta? Ninguém ainda sabe. Aliás, em certos dias, os únicos trabalhadores visíveis no canteiro da Avenida foram dois operários solitários, desmentindo com o próprio suor a ideia de que a obra tenha alguma urgência ou planejamento sério.

Obra do canteiro na principal avenida de Patos afunila espaço para tráfego

A mesma falta de informação se repete na segunda grande obra misteriosa: a do antigo mercado público do bairro Jatobá, prometido em rede social e palanque como um futuro Centro de Saúde Especializada. Uma promessa que hoje se esconde atrás de tapumes e carece também de placa informativa — essencial, pelo menos em qualquer obra pública decente. Não se sabe o custo, o prazo, nem a origem dos recursos. Mas sabe-se, com certeza, que a obra existe — pois obstrui calçadas na caótica Rua Manoel Mota e alimenta o marketing da Prefeitura.

Antigo mercado publico do Jatobá também não tem placa com informações sobre a obra

A sensação geral é de déjà vu. Afinal, Patos há décadas se tornou um verdadeiro cemitério de obras públicas inacabadas. Um símbolo-mor desse descaso é o Teatro Municipal, cujo esqueleto agoniza há 15 anos no coração da cidade. Sim, quinze anos. Um teatro! Único na cidade! E ainda não ficou pronto.

Para efeito de comparação, a Pirâmide de Quéops, no Egito, levou aproximadamente 20 anos para ser construída. Uma obra faraônica de proporções colossais, com blocos de toneladas e dezenas de milhares de trabalhadores. Já Patos, pelo visto, está prestes a se consagrar como a cidade onde um teatro demora quase tanto quanto uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo.

Mas é claro, sem a maravilha.

Recentemente, o Governo da Paraíba assumiu o controle das obras do teatro municipal. Há uma placa anunciando a intervenção, mas o fim da obra segue indefinido, já que o cartaz prometeu a conclusão para março deste ano, mas o prazo passou, como tantos outros, sem que o espaço fosse entregue. Enquanto isso, os artistas locais — com o pires nas mãos e a maquiagem de palhaço no rosto — seguem implorando por apoio, em meio à agonia da classe artística patoense, que resiste sem um palco digno. O teatro, símbolo da arte e da expressão coletiva, permanece inacessível, como se a Cultura em Patos fosse sempre a última prioridade.

O que temos é um escárnio. Uma população cansada de promessas, cega pelas cortinas de tapume, e descrente diante de tanto desprezo com o dinheiro público. A gestão atual, como as anteriores da mesma oligarquia, parece ter se especializado na arte de não prestar contas, enquanto a cidade se afoga em poeira, escombros e desinformação.

Resta saber até quando Patos suportará ser governada sob a lógica do improviso, da propaganda e do esquecimento. Porque, até aqui, a única coisa que transparece na cidade é o abandono.

 

Wanessa Meira – Polêmica Patos

 

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