
O presidente Lula (PT) não tem conseguido levar o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), mais a sério. É o que dizem aliados próximos do presidente sobre os acontecimentos na Casa nas últimas semanas.
Motta está sendo considerado um presidente da Câmara imprevisível pelo Planalto. As surpresas, como pautar o projeto de lei da dosimetria no início da madrugada ou votar em sequência as cassações dos deputados Glauber Braga (PSOL-RJ) e Carla Zambelli (PL-SP), têm levado Motta a ser encarado não só como um líder instável como também um parlamentar inseguro.
Lula tem visto tudo como uma falta de direção, dizem aliados. O presidente também se queixa da qualidade dos parlamentares, que, segundo ele, não mostram capacidade de exercer o trabalho, e vê o diálogo extremamente prejudicado por causa disso.
Com respeito aos protocolos, Lula evita falar de Motta abertamente, mas o parlamentar não tem mais a confiança no Planalto. Segundo interlocutores, o presidente ofereceu uma aproximação concreta, indicando até uma possível aliança eleitoral na Paraíba no ano que vem, mas não teve uma resposta entusiasmada. Na leitura do governo, o parlamentar não quer “se comprometer com nenhum dos lados”.
A desconfiança não é nova. A relação entre o parlamentar e a alta cúpula do governo nunca mais foi a mesma após ele quebrar um acordo, colocar urgência no projeto que derrubava o decreto do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e avisar pelas redes sociais, em julho.
Mais do que instável, ele também é visto como inconsistente. O governo acabou analisando a última semana, que resultou até em agressões a jornalistas, como uma grande derrota para Motta: teria desagradado tanto a petistas quanto a bolsonaristas e mostrado a sua fragilidade ao centrão, algo que a política dificilmente perdoa.
Integrantes do governo usam a tentativa de cassação de Glauber como exemplo. Quando viu que estava acontecendo uma espécie de acordo para salvar o parlamentar, Motta, de cima da mesa, começou a ligar para aliados, mostrando, para petistas, descontrole da situação. Essas imagens e o vídeo em que ele leva uma resposta da deputada constituinte Benedita da Silva (PT-RJ) sobre a promulgação da Constituição Federal, em 1988, rodaram os grupos do governo de forma jocosa.
Isso tem sido externado mais abertamente por integrantes do governo do que pelo presidente. “Eu acho que é inaceitável a maneira como tem sido conduzido [a Câmara] com [votar a cassação de] Glauber e os bolsonaristas, seja em passar a madrugada votando [o PL da] Dosimetria, uma anistia envergonhada, sem colocar em pauta as grandes questões do povo brasileiro, eu acho que é um erro grave”, disse o ministro Guilherme Boulos, da Secretaria-Geral a Presidência, em café da manhã com jornalistas na última sexta (12).
O presidente se preocupa ainda mais com 2026. Já com minoria das duas Casas, Lula tem expressado a pessoas próximas e publicamente a necessidade de tentar eleger mais deputados e senadores, com uma apreensão de que o Congresso fique ainda mais conservador e com um nível, para ele, mais baixo.
No Planalto, a avaliação é que o governo tem conseguido aprovar o que importa, mas a um preço muito alto. Os projetos mais importantes da gestão, como a reforma do IR (Imposto de Renda) e a redução da conta de luz, foram aprovados, mas o governo tem sofrido muitas dores de cabeça, em especial nas pautas consideradas “de costume” ou ideológicas e que envolvem questões sociais.
Lula estimula que se candidate todo petista e membro de partidos da centro-esquerda que tenham chances de se eleger. No governo, a estimativa é que pelo menos 22 dos 38 ministros deixem seus cargos para concorrer, em sua maioria, aos Parlamentos por seus estados.
Por Redação Fonte 83
Com informações do UOL
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